PortoGente conversou nesta semana com o presidente da Associação de Turismo de Ilhéus (Atil), Luigi Massa. Ele não poupou críticas ao Governo da Bahia e seu projeto de construção de um novo porto em Ilhéus, o Porto Sul. Massa disse que o anúncio do porto afugentou investidores da área turística e arruinou o surgimento de pelo menos três mil empregos diretos. “Ilhéus não precisa de mais um porto para escoamento de cargas, precisaria, sim, de mais estrutura urbana e equipamento para o porto atual”.
Massa fala, ainda, sobre a disputa judicial que está ocorrendo entre a Atil e o Governo da Bahia. “São os interesses econômicos que movem as políticas. E os interesses econômicos não olham muito para as populações locais e para os danos que podem causar, principalmente quando esses interesses moram longe”. Vale lembrar que Ilhéus, hoje, é o terceiro destino mais procurado pelos turistas em terras baianas, perdendo somente para a capital Salvador e a cidade de Porto Seguro. PortoGente – Qual sua opinião sobre o Porto Sul?Luigi Massa – Eu não entro no mérito da necessidade ou conveniência do Porto Sul, mas sim sobre sua localização. A área escolhida é uma das últimas reservas da biosfera, a mais rica e variada. Nela se localizam os recursos hídricos de nossa região e um visual cênico dos mais lindos do universo. O Governo reconheceu essas características e protegeu essa região com a mais variada legislação. Na área escolhida para o Porto Sul, estavam se instalando variados empreendimentos turísticos, nacionais e estrangeiros, com investimento de US$ 3 bilhões, que dariam origem a 3 mil empregos diretos. Inútil dizer que só a ameaça do porto de minérios fez os investimentos serem suspensos e afugentou os investidores.
Ilhéus é considerado um dos destinos mais paradisíacos do País e conta com grande número de defensores de seus recursos naturais
PortoGente – Ilhéus precisa de mais um porto para escoar cargas? Luigi Massa – Ilhéus não precisa de mais um porto para escoamento de cargas, precisaria, sim, de mais estrutura urbana e equipamento para o porto atual. Quem precisa do porto para escoar a produção de minério são os proprietários, que compraram as jazidas, e para isso escolheram o caminho mais próximo, mais fácil e mais barato. O que acontecerá depois que se esgotarem as jazidas?PortoGente – Por que as autoridades parecem ignorar os danos que o Porto Sul pode trazer? Luigi Massa – São os interesses econômicos que movem as políticas. E os interesses econômicos não olham muito para as populações locais e para os danos que podem causar, principalmente quando esses interesses moram longe.PortoGente – Quais os próximos passos do grupo contrário ao Porto Sul? O que está planejado para 2010?Luigi Massa – Não existe grupo contrário ao Porto Sul. Existe, sim, amor pela cidade e interesse em seu desenvolvimento sustentável. Existe preocupação com as futuras gerações. O que deixaremos? Terras esburacadas, áridas e contaminadas? Quanto aos próximos passos, nós estaremos atentos, seguiremos os estudos, participaremos de todas as comissões e acompanharemos todos os passos.PortoGente – É verdade que a discussão está na Justiça?Luigi Massa – A Atil é a autora de uma ação pública contra o decreto de desapropriação da área destinada ao Porto Sul, pois contraria toda uma legislação destinada à sua preservação e inviabiliza uma série de empreendimentos turísticos já iniciados.
Espaço projetado para receber o Porto Sul é rico em diversidade natural, com imensas áreas verdes
PortoGente – Quantas pessoas visitam Ilhéus por ano? O turismo tem um peso significativo na economia local?Luigi Massa – A gente não tem em mãos os dados mais recentes, mas até onde foi divulgado pelas autoridades, o turismo vinha se apresentando como alternativa mais próxima e viável à crise do cacau, que era a base econômica da região. Ilhéus recebe por ano 294 mil turistas, só perdendo para Porto Seguro e Salvador. Mesmo segundo expectativas mais pessimistas, Ilhéus poderá chegar a 1 milhão de turistas em 2020.PortoGente – O turismo será prejudicado de que forma se o Porto Sul sair do papel? Luigi Massa – Depois do início das obras e, por fim, depois da operacionalização do Porto Sul, está claro que não haverá mais espaço para atividades turísticas em toda aquela região e, por reflexo, nas áreas vizinhas. Além da imigração inevitável, com consequente favelização e aparecimento de problemas na saúde, educação, segurança e sistema viário, haverá a deturpação do cenário e a degradação da área existente preservada. Tudo isso é normal em uma área industrial, mas não atrai turistas e nem investimentos turísticos.
